Chaga: drama policial furioso de Wylersexta-feira, 28 de dezembro de 2007
As chagas do ofício
Chaga: drama policial furioso de Wylerquinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Os primórdios de Francis Coppola
Update: Caramba, só agora percebi a tremenda mancada quanto ao primeiro fime do Scorsese. Tava delirando, desculpem. Esse é o que Corman produziu, mas o primeiro, como bem lembrou Daniel, é Quem Bate à Minha Porta?
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Dois homens que filmam demais
Ontem vi mais um exemplar magnético da obra de Alfred Hitchcock: O Homem Que Sabia Demais, de 1955. Remake do filme homônimo que o próprio Hitch dirigiu na década de 1930, é uma obra que confirma mais uma vez o talento do diretor inglês de nos manter grudados na tela com seu estilo de direção preciso e rigorosamente estruturado. O filme não foge às rédeas de seu condutor um único segundo sequer; o controle que ele tem de cada palavra escrita, de cada transição, movimento e composição de quadro é impressionante. Um exemplo disso é quando o personagem de Daniel Gélin, Louis Bernard, é esfaqueado pelas costas: a câmera o acompanha também de costas, no canto do quadro, enquanto gradualmente ele se aproxima, trôpego, da multidão em Marrakech, em especial do casal McKenna (James Stewart e Doris Day, excelentes). Aí vemos o domínio de cena de Hitchcock, onde olhar de público e de personagem se entrecruzam: nós vemos a faca; Stewart, confuso, apenas observa o c
omportamento estranho de Bernard, ainda não confirmando sua identidade, mas é quando ele cai de joelhos a seus pés e Dr. McKenna finalmente o reconhece (suas mãos mancham com a maquiagem de disfarce do francês) e retira o objeto do crime de suas costas, após ter ouvido um segredo poderoso, que percebemos o quanto a encenação de Hitchcock é meticulosamente planejada, sem espaço para improvisação. Outro exemplo definitivo é a cena do concerto no Albert Hall, a arma se revelando na cortina vermelha, mais de 10 minutos sem uma única linha de diálogo, apenas a expectativa para o bater de pratos sair das partituras e abafar o barulho de um tiro. Genialidade pura. Aliás, essa cena antológica foi uma das homenageadas recentemente por outro gênio, Martin Scorsese, com igual brilhantismo, num filme comercial dirigido por ele para uma vinícola espanhola (Freixenet) que, arrisco dizer, é uma das melhores coisas lançadas neste ano. Um roteiro falsamente perdido e incompleto de Hitchcock é o mote para este desfile de imagens e homenagens incríveis. O nome é The Key To Reserva, e se torna viciante desde a primeira visita. Vejam e revejam clicando na foto abaixo:
domingo, 9 de dezembro de 2007
A viagem vazia de Wes Anderson
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Polanski "State-of-Art"
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Dorléac e Pleasance: tragicomédia, Coen, Monty Python e melancolia
Outra jóia rara e surpresa maravilhosa que tive foi Armadilha do Destino (1966), um filme que os irmãos Coen devem ter visto e revisto centenas de vezes. É o tipo de filme difícil de se classificar, e essa mistura de comédia e tragédia é dosada com habilidade impressionante por Polanski, que aqui abusa de suntuosos planos-gerais da ilha inglesa que lhe serve de cenário, numa fotografia claramente mais operística e majestosa do que seus longas anteriores (de autoria de Gilbert Taylor, também de Repulsa). Nesse seu terceiro filme, o segundo de sua parceria com o roteirista Gérard Brach, o cineasta polonês revela sua verve mais sarcástica, narrando a história de dois bandidos (Lionel Stander e Jack MacGowran) que, ao falharem num assalto, e impedidos pela maré alta de seguirem viagem, acabam por se hospedarem num castelo, cujos donos, vividos por Donald Pleasance e Françoise Dorléac (irmã de Catherine Deneuve, morta tragicamente aos 25 anos, num acidente de carro) E, caramba, Pleasance é outro gênio, no mesmo patamar de um Peter Sellers, e encarna esse personagem com devoção insuperável, equilibrando entre o excêntrico e o ridículo de maneira primorosa, e que nas mãos de outro diretor certamente poderia ter se tornado uma caricatura tosca e superficial (talvez até preconceituosa para alguns puristas ingleses). A construção de seu personagem têm algo de Monty Python com um toque de melancolia, se é que uma comparação assim ajuda a entendê-lo. Tira sarro de si mesmo (ou melhor, deixa-se tirar sarro), mas é um eterno sofredor, fraco, covarde, traído e chacoteado pela mulher incessantemente (a cena em que ele se veste de bebê e acaba por surpreender o bandido é antológica), e que acabamos ficando com pena. Polanski aqui também dá mais uma demonstração de seu extremo talento nos oferecendo um plano-seqüência de mais de 7 minutos que, de tão fluído e sutil, quase nem percebemos sua engenhosidade. Perfeito exemplo do uso da técnica em favor da narrativa, e não apenas um malabarismo gratuito de direção, apenas para chamar a atenção. Repito: Armadilha certamente deve ter sido um dos fortes alicerces do qual os irmãos Coen delinearam seu estilo peculiar de escrever e filmar. É impossível ver o personagem de MacGowran, Albie, impassível dentro do carro quase inundado, no início, e não pensar que os irmãos cineastas poderiam ter criado aquilo. Os tiros, a violência, o carro queimado, o galinheiro destruído, a cena final - tudo lembra muito obras como Fargo, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, O Grande Lebowski, no seu humor-negro e no mergulho num universo particular ricamente caracterizado e detalhado, no qual os diretores pisam fundo no acelerador, sem medo de serem felizes ou retratados como doidos varridos. Levam as situações ao limite, desenvolvem esse mundo paralelo apaixonadamente: e é exatamente isso que os fazem fascinantes, originais e geniais. Bravíssimo!
P.S.: Armadilha conta ainda com uma ponta (silenciosa) da então estreante Jacqueline Bisset, creditada como Jackie Bisset.
P.S.2: O novo dos Coen, No Country For Old Men, Onde Os Fracos Não Têm Vez por aqui, é o filme que mais espero para ver, disparado. O livro é sensacional, o filme não deve ser diferente. Estréia em 08/02/2008.
sábado, 24 de novembro de 2007
A Faca na Água (1962)
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Desencanto (1945)
Johnson e Howard: fábula de desilusão
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Pickpocket - O Batedor de Carteiras (1959)
LaSalle e Green: o homem salvo pelo amorsegunda-feira, 19 de novembro de 2007
O Silêncio do Lago (Spoorloos, 1988)
Vi ontem essa pérola, dirigido pelo franco-holandês George Sluizer, uma obra simplesmente hipnótica. Construção de suspense magistral, é um filme de silêncios sufocantes. Baseado num romance de Tim Krabbé chamado "O Ovo Dourado" (as metáforas visuais que provêm desse título são habilmente usadas ao longo da narrativa), é a busca de Rex Hofman (interpretado por Gene Bervoets) pela sua namorada, Saskia (Johanna ter Steege), que desaparece estranhamente quando vai comprar um refrigerante numa loja de conveniência de um posto de gasolina. Sluizer, aqui, sutilmente vai estabelecendo a estrutura narrativa do filme, por vezes indo e voltando no tempo sem que nada se torne confuso ou entediante. Seus enquadramentos e angulações conseguem ressaltar à perfeição o clima mórbido da história, com plongées fascinantes e movimentação de câmera a la Hitchcock, uma influência evidente do diretor, além dos diálogos ricos e precisos. O filme flerta com o road-movie, em seu iníco em que o casal viaja para passar o feriado na França. Mas já aos 20 min., o filme já subverte esse conceito de maneira primorosa, deixando o espectador inquieto. O personagem de Bernard-Pierre Donnadieu, um professor de química perturbado chamado Raymond Lemorne, é desenvolvido com perfeição na sua calma e serenidade angustiantes. O desfecho é igualmente impressionante mas, talvez, para quem tenha visto Kill Bill, de Quentin Tarantino, esse impacto seja um tanto reduzido. Mas é preciso levar em conta que o magnífico filme de Sluizer é de 1988, bem antes de Tarantino iniciar sua carreira e, consequentemente, sua interminável odisséia de referências (homenagens, colagens) cinematográficas, cujo Spoorloos é uma das principais dentro de sua saga de vingança sangrenta. Há uma refilmagem (que não vi), The Vanishing, de 1993, que o próprio Sluizer dirigiu com Sandra Bullock, Kiefer Sutherland e Jeff Bridges, massacrada pela crítica. Porém, esqueça o remake e Kill Bill por um momento, e deixe-se levar por esse thriller memorável. O lançamento em DVD é da Silver Screen.
domingo, 18 de novembro de 2007
Jovem Scorsese completa 65: um diretor que pulsa
sábado, 17 de novembro de 2007
Kubrick na estréia de 2001
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Kubrick "State-of-Art"
Falar de Kubrick é falar do ápice do Cinema em muitos aspectos. Parece chover no molhado dizer que só fez obras-primas definitivas, doze filmes magníicos numa gloriosa carreira de quase 50 anos. Suas obras tinham tempo certo de maturação, de desenvolvimento. O cineasta nova-iorquino tinha uma característica primordial que era fazer de seus filmes verdadeiros ícones culturais atemporais. 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), visto à época, hoje ou daqui a 100 anos não será peça de museu, um culto saudosista, ou mesmo um filme ultrapassado. Kubrick sabia como ninguém construir em seus filmes a essência da reflexão humanista e científica e conjugá-las com o fazer cinematográfico, sem melodramas ou excessos. E se a essência de uma obra de arte se mantém intacta, aí está sua imortalidade. É conhecido por ser cerebral, mas a emoção dentro de suas obras, que não significa o choro meloso ou a gargalhada besta e rasgada, brota exatamente daí: o pensamento racional, apesar de exato e rigorosamente estruturado, tem um limite, uma barreira por vezes invisível, mas que está lá, e a emoção quebra essa divisa, ela é infinita e não absoluta. E Kubrick faz exatamente isso: transborda esse limite. Sua narrativa "explode" no segundo ato de Nascido Para Matar; Alex busca redenção em Laranja Mecânica, e o choro de sua mãe parece demarcar a ultrapassagem desse limite estrutural-racional para um estado emocional quase que opressivo, que não nos faz chorar junto, mas nos obriga a pensar e refletir sobre a transformação desse personagem. Dr. Strangelove nos faz rir, sim, mas num estado de perplexidade com a situação de uma guerra nuclear poder ser deflagrada por pura imbecilidade política. Ao final de 2001, chegamos num estado de torpor, indecifrável, onde não podemos explicar aquilo que vimos, mas ao absorver aquelas imagens hipnóticas, com a música transcendental de Strauss ao fundo, sentimos um pouco da maravilha que é a existência humana. É isso, Kubrick não nega as emoções, ele as estimula através da reflexão e do pensamento.







