quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Desencanto (1945)

É refrescante ver um filme sincero e charmoso como esse. O diretor britânico David Lean já estava despontando como diretor (antes, como editor, havia tido sucesso expressivo) e partiu para a adaptação dessa peça de Noel Coward, chamada originalmente Still Life, 17 anos antes de construir seu monumental épico Lawrence da Arábia. É uma história de amor enxuta, mas não menos tocante entre duas pessoas que se encontram secretamente durante algumas semanas. Trevor Howard, numa atuação contida, interpreta o médico Alec Harvey, que encontra no bar de uma estação uma mulher (Laura Jesson, interpretada por Celia Jonhson) que está desesperada para reitrar um cisco de areia que acaba de entrar em seu olho, enquanto observava a rápida passagem de um trem pela plataforma. É o pretexto para que ambos se apaixonem de imediato e comecem a marcar seus breves encontros (o título original é Brief Encounter). O filme é todo contado em flashbacks, a narrativa tem desenvoltura, mas o que prevalece aqui não é nenhum arroubo de direção, mas sim os pensamentos singelos expressos na narração de Laura, doce e melancólica. É de cortar o coração o momento em que Laura, no trem, em frente à sua amiga tagarela, lamenta não ter podido viver os últimos momentos com seu amante, ou quando imagina-se viajando com Alec, seus pensamentos refletidos na janela do vagão. A personagem de Johnson chega até a confessar ao seu marido que "odeia pessoas bem-intencionadas", referindo-se a amiga verborrágica. Enfim, Pontes de Madison, de Clint Eastwood, que havia visto há algumas semanas, deve muito a atmosfera deste aqui, no tom desiludido, "desencantado", com o qual trata esse momento de fuga de pessoas que, com a relação conjugal estabelecida, família, filhos, se aventuram num amor passageiro intenso apenas para depois constatarem o erro de fugir de um ambiente que, por mais insosso e artificial que possa parecer, oferece segurança e estabilidade. É uma fábula de desilusão, mas extremamente terna, e a fala do marido de Laura, ao final, só vem confirmar isso tudo. Belo filme.



Johnson e Howard: fábula de desilusão

Nenhum comentário:

Postar um comentário