sábado, 24 de novembro de 2007

A Faca na Água (1962)

O trio de protagonistas de A Faca na Água: a poderosa estréia de Polanski


Roman Polanski iniciou sua brilhante carreira com tudo. Este seu primeiro filme, A Faca na Água (Nóz w wodzie, Polônia, 1962), é um primor técnico e narrativo. Econômico, Polanski precisou apenas de um barco e três atores para construir um ambiente de confronto e tensão permanentes. O enredo é simples: Andrzej (Leon Niemczyk), um colunista de esportes, e sua bela mulher, Krystyna (Jolanta Umecka), estão dirigindo quando se deparam com um jovem (Zygmunt Malanowicz) pedindo carona, no meio da rua. Dentro do carro, os três partem para um passeio dentro do iate do casal. A partir daí, o marido, sentindo a troca de olhares supeita entre o jovem e sua mulher, passa a se comportar como o "capitão" da embarcação, condenando e ironizando todas as ações do jovem (que traz consigo uma faca) e tentando mostrar sua superioridade. São notáveis as maravilhosas composições que Polanski cria a partir de enredo tão enxuto e cenário tão limitado. A fotografia, em belíssimo preto-e-branco, ressalta os reflexos sobre a água e vegetação, e a atmosfera sufocante que surge daí é digna de mestre. O jovem "caminhando" sobre a água, a catarse de toda aquela tensão física e emocional que, surpreendentemente, não vem através da violência, e sim do beijo entre o jovem e a moça, os diálogos que acentuam gradualmente o conflito, os ensejos de um jazz eletrizante que permeiam a narrativa, em sua grande parte dominada pelo silêncio, as cenas dentro da embarcação (o jogo de palitos, o olhar do jovem à Krystina se despindo, em segundo plano, os dois homens atirando a faca) - tudo isso já anunciava outro grande cineasta que estava por conquistar o mundo com sua ousadia na experimentação da linguagem e sofisticação na condução narrativa. Belíssima estréia.

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