segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Vampiros de Almas (Don Siegel, 1956)

No turbilhão de informações que ronda Avatar, sempre é bom voltar meio século e ver Don Siegel em plena forma em Vampiros de Almas (1956), fonte mestra de meio milhão de ficções científicas que vierem depois, inclusive da farofada de James Cameron.

Enxuto como poucos sabem ser, e ao mesmo tempo tão preciso nos cortes e na construção da tensão, Siegel vai direto ao ponto: um médico foi internado por ser tido como louco e, a partir daí, para provar sua sanidade, conta toda a história a um colega de profissão, que se desenrolará num longo flashback.

Don Siegel

Época turbulenta nos Estados Unidos, marcada pela Guerra Fria e o mccarthismo, a década de 1950 foi mais que adequada para o lançamento de filmes que exploravam desse tom paranóico em suas narrativas, a exemplo do primeiro Guerra dos Mundos (a propósito, cujo remake chorão de Spielberg ganhou um misterioso oitavo lugar na relação de melhores da década da revista francesa Cahiers du Cinema, publicada recentemente), O Dia em Que a Terra Parou, A Invasão dos Discos Voadores, The Brain From Planet Arous e outras pérolas.

Um dos grandes mentores de Clint Eastwood, Siegel dirige como um artesão meticuloso: planos sempre certeiros que estabelecem a base de sua narrativa (aqui num belo Superscope, 2:1) assim como o caráter dos personagens. Basta um close no médico (bela interpretação de Kevin McCarthy) junto de sua namorada (Dana Wynter) na janela do consultório, vendo a movimentação louca numa praça, ou mesmo o plano de Wilma, prima da moça, ao afirmar que seu tio não é seu tio, para apreendermos toda a tensão que a obra constrói através da expressão e do olhar.

Se Avatar metaforiza à sua maneira capenga e interminável a ocupação militar promovida pelos EUA e o terrorismo – o bombardeio a uma enorme árvore chamada “Home Tree” (Árvore-Lar), em certa altura, e a tomada subseqüente de sua esplendorosa queda é de doer, fora a chuva de cinzas – Siegel não precisa de mais de uma hora e vinte para nos deixar com a sensação de que quanto mais absurda a paranóia, mais real ela se mostra, para o nosso pavor. Isso sim é politicamente forte e assustador.

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