segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O workshop digital de James Cameron: Avatar

Não é muito difícil decifrar o que ocorre com Avatar. O filme é um rito de descoberta tanto para os personagens do filme quanto para o próprio diretor, James Cameron. Parece buscar a cada frame fazer valer o burburinho em torno do seu caráter revolucionário no uso da terceira dimensão. E isso ele consegue, não há dúvidas.

Ora, mas de que adianta tantas camadas “físicas” de imagem se o filme é tão plano na questão das idéias? Indiscutível a capacidade de encenador de Cameron, e isso ele não precisa mais provar. Ou melhor, ele precisa provar para a platéia, afinal, o porquê do brinquedo novo, o porquê do 3D.

Pareceu-me um grande filme de oportunidade, a exemplo do remake sonolento de O Dia Em Que A Terra Parou, com todo esse engodo ambientalista muito mal ajambrado dentro da narrativa. Aqui temos um ex-fuzileiro, Jake Sully (muito dignamente interpretado por Sam Worthington) que, paraplégico, assume o lugar do irmão gêmeo numa missão neste novo planeta, Pandora, controlando esse corpo artificial, o tal "avatar" Os militares americanos estão lá porque a terra é repleta de um metal valioso. A partir disso, reafirma-se sempre a mesma ladainha.

É inegável que o nível de detalhes desse novo mundo concebido pelo diretor é assombroso, um trabalho de design de produção hercúleo. A maior ausência, contudo, é de roteiro. Porque dessa equação muito desequilibrada o que sobra é apenas um belo e suntuoso workshop de efeitos digitais. Não se sabe muito bem aonde Cameron quer chegar misturando rituais zen-budistas com O Último dos Moicanos on acid – tudo isso numa infindável saraivada de informações visuais muti-camadas que, paradoxo maior, nunca preenchem o vazio dessas mesmas imagens.

O cinema de aventura/ação de Hollywood já foi capaz de coisa muito melhor, exemplo da desenvoltura de um Sam Raimi nos seus Homem-Aranha e o mesmo Cameron nos seus Exerminador do Futuro. São filmes em que o desejo de fazer cinema se mostram vívidos, os personagens pulsam, diferente deste em que tudo, surpreendentemente, parece tão tecnicamente meticuloso quanto burocrático, quase uma obrigação em se tirar idéias do papel, em ser pioneiro.

Não quero parecer arrogante nessas primeiras impressões, mas tudo isso me veio à mente durante e logo após a sessão da qual acabo de sair há poucas horas. Claro, parece ser um marco-zero, a partir do qual veremos se realmente todo esse desenvolvimento tecnológico veio apenas para inflar e disfarçar os buracos de filmes já ruins ou servir de adendo à gama criativa dos cineastas. Talvez até mereça uma revisão, mas a empolgação foi tão passageira quanto um jogo de videogame: jogamos, enjoamos, desligamos a TV e colocamos os controles no chão. Acabou, vamos dormir.

P.S.: Aliás, what the hell é aquela personagem de Michelle Rodriguez?

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