segunda-feira, 13 de julho de 2009

II Festival de Cinema de Paulínia - os longas de ficção, até agora

Lado a lado com as propostas conservadoras que se viram nos documentários, os longas exibidos dentro da categoria de ficção não fugiam do que parece estar sendo a regra do festival: a amenidade, o não confrontamento, a estratégia defensiva. O primeiro dos filmes exibidos ao púbico foi O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, marido de Denise Fraga e parceiro de trabalho em Retrato Falado, quadro exibido há alguns anos dentro do Fantástico.

O filme é baseado na história real de Roberto Carlos Ramos que, na Belo Horizonte da década de 1970, é adotado por uma pedagoga francesa, e se revela um garoto com notável habilidade para fantasiar seu cotidiano. De início, a obra nos promete levar a caminhos no mínimo estimulantes, principalmente nas seqüências que se passam na casa da personagem vivida por Maria de Medeiros (a namorada de Bruce Willis em Pulp Fiction), onde o compromisso de narrar os fatos da maneira mais tradicional é posta de lado em detrimento de uma interação bem mais rica entre os dois atores. A partir daí, porém, a necessidade de planificar os personagens e deixar tudo mais “palatável”, por assim dizer, acaba por arruinar o filme, na medida em que Villaça propõe um jogo bobo de gato e rato com outro colega de rua que era admirado por Roberto, o qual passa a ser o “vilão” numa narrativa que, a princípio, prescinde de qualquer tipo de sentimento de heroísmo para ser absorvida pelos espectadores.

O segundo fime, exibido no sábado, logo depois de Mamonas, o Doc, é talvez uma das coisas mais indecifráveis que se possa imaginar: Destino, de Moacyr Góes. É daqueles acontecimentos antológicos que superam qualquer limite de bom senso, cara-de-pau, tosqueira.
O constrangimento talvez não tenha sido maior porque não é permitido entrar com tomates dentro do teatro, se não aquilo ficaria mais sujo que o proverbial pau de galinheiro. E a culpa não se restringe aos “realizadores” desta aberração (além de Góes, a produtora e atriz Lucélia Santos, Diler Trindade e sua quadrilha), mas a curadoria (a.k.a Rubens Ewald Filho) que, se o mundo estivesse minimamente nos eixos, seria imediatamente substituída.

No domingo, o cinema começou enfim a retomar a dignidade e ser o assunto principal da noite. Logo após o longa de Mocarzel, Roberto Moreira exibiu sua nova película, Quanto Dura o Amor? (conhecido inicialmente como Condomínio Jaqueline), um filme que nos dá o alívio de presenciar personagens bem escritos que, se não chegam a criar um comprometimento emocional mais forte na relação do espectador com a obra (o filme não é de forma alguma apressado, mas sua hora e meia parece muito pouco), ao menos é caloroso e bem atuado o suficiente (destaque para a estreante em cinema Maria Clara Spinelli, incrivelmente sutil) para manter o interesse até o final. Moreira entrelaça de maneira muito fluida e delicada várias estórias de amor que têm como pano de fundo a cidade de São Paulo, desde uma atriz iniciante que chega à metrópole para tentar crescer na profissão (Silvia Lourenço, excelente) à uma advogada (Spinelli) que convive com um dilema na sua relação com um colega de trabalho. Destaque para a bela fotografia digital (a primeira produção brasileira a usar a aclamada câmera Red One, de resolução 4K, superior ao HD) de Marcelo Trotta (Signo da Cidade, a série Alice, da HBO e a recente Som e Fúria).

Hoje promete ser a melhor noite, com o aclamado novo filme de Eduardo Coutinho (Edifício Master), Moscou, e No Meu Lugar, a estréia em longas-metragens de Eduardo Valente, crítico da revista eletrônica de cinema Cinética e curta-metragista premiado.

Um comentário:

  1. Parabéns pelos textos, Murilo, muito bons.

    Bom, por sorte ou adivinhação da minha parte, não vi o filme com a Lucélia Santos, pelo jeito a única unanimidade do festival até agora.

    Gostei bastante de Quanto dura o amor?, principalmente pelo elenco e pelo ar urbano do filme.

    Abraço.

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