segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Medo primitivo














A força de Atividade Paranormal reside na sugestão. Não que isso seja novidade num filme feito em regime de guerrilha, com estimados US$ 10 mil de produção. O que o diretor Oren Peli faz aqui, afora alguns truques dispensáveis (como as frases que abrem e fecham o filme, querendo baseá-lo em uma tragédia “real”), é basicamente um belo trabalho de tempo e esquadrinhamento de espaço. Na essência, é do que o terror precisa.

A Bruxa de Blair, há dez anos, foi magistral nesse quesito. Numa época em que o mundo ainda não era infestado pelo (hoje famigerado) marketing viral, os diretores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez conseguiram fazer do filme em si uma lenda urbana. Este primeiro filme de Peli não conseguiu o mesmo feito, até porque de dez anos pra cá a Internet evoluiu de maneira assustadora e seus mecanismos, ao menos no quesito propaganda, foram fartamente expostos. Mas foi (e está sendo) um sucesso abissal de bilheteria, porque o que nos aflige, afinal de contas, é o medo do escuro, do desconhecido, tão primitivo quanto autêntico.

Atividade Paranormal mantém intacto o espírito de curiosidade e de expectativa dentro de sua narrativa. Os casal protagonista está em constante busca para registrar aquilo que os assombra – o rapaz, pela curiosidade, e a garota, pelo real pavor que aquilo provoca e já a importunou em experiências passadas. É um argumento que fascina pela simplicidade, e Peli o aproveita muito bem. Um exemplo: o médium, arquétipo tão presente em filmes do tipo, aparece como um homem que não quer arriscar o pescoço na área que não é sua: é especialista em fantasmas, não em demônios. Os dois ficam, então, à deriva, tendo de lidar sozinhos com aquilo que desconhecem. Tão básico quanto eficiente.

A relação do casal de namorados é construída naturalmente e com muita verdade. Não à toa, um dos melhores momentos é aquele em que o rapaz, Micah (Micah Sloat) procura apavorado pela namorada, Katie (Katie Featherston), e a encontra, desolada, num banco na área externa da casa.

Extrair autenticidade daquilo que se mostra aparentemente banal é o maior dos elogios que se pode fazer ao filme – principalmente quando o plano que o representa, composto de uma porta aberta e uma mulher a beira da cama, estática, nos aflige muito mais que qualquer apocalipse milionário de Hollywood.

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