domingo, 7 de dezembro de 2008

O Dia em Que a Terra Parou e o Eco Bullshit


Prestes a ser lançado nos próximo mês, com Keanu Reeves no papel do extraterrestre Klaatu (que foi de Michael Rennie no original), O Dia Em Que A Terra Parou, o clássico de 1951, de Robert Wise, é um filme de discurso intensamente diplomático e que marcou fortemente sua época – o pós-guerra que dava início a um grande temor de que um conflito atômico faria com que o mundo voltasse ao pó.

Robert Wise, conhecido por sua meticulosidade como editor de filmes mais que consagrados como Cidadão Kane, de Orson Welles, e O Corcunda de Notre Dame, de William Dieterle, conduz a história de maneira rápida e seca, não deixando muito espaço para o suspense. Já iniciamos com a descoberta de um invasor desconhecido nos céus de Washington D.C. – e todo o alerta de rádios e governos para o que está por vir.

Se antes a preocupação básica de um filme como esse era genuína por alertar para um período em que poderia haver ainda mais destruição e morte, da maneira mais brutal e insana que se poderia imaginar numa guerra nuclear, o remake que chega em janeiro aos cinemas já parece surgir defasado, ao menos em sua questão temática - o cenário do pós-guerra dará lugar à degradação ambiental. Não que a moda do enviromentalism, a preocupação ecológica que agora transborda no discurso de qualquer político ou empresário tenha passado – apesar de que, como moda, não vai demorar tanto tempo para que caia no esquecimento.

No novo filme de Scott Derrickson (que fez o razoável O Exorcismo de Emily Rose) Gort, de acordo com a sinopse no IMDb, vai deixar de ser um ator fantasiado de robô indestrutível e virar CGI. O problema é que, numa época em que Shyamalan fez de sua ameaça biológica algo assustador porque invisível, em Fim dos Tempos, e que os alertas eram produzidos pela própria natureza, a simples presença de uma dupla que serve de intimidação (robô) e discurso diplomático (Klaatu) viajar milhares de quilômetros justamente no intuito de fazer um alerta para a destruição da Terra (pelo aquecimento global?), soa terrivelmente datado – hoje não existe a limitação de informação pela carência tecnológica da década de 1950, e a hipocrisia impera e se alastra de forma alarmante justamente pelo excesso de discurso e da falta de ação.

George Carlin, um dos maiores e mais ácidos comediantes dos E.U.A, falecido em junho passado, satirizou toda esse circo que se faz em torno da sustentabilidade ecológica. Parafraseando-o, ele diz que o planeta agüentou furacões, tempestades, eras glaciais e terremotos por seis bilhões de anos, e não é a raça humana, que se industrializou há pouco mais de duzentos, que vai conseguir destruí-lo. O Klaatu atualizado por Reeves talvez soe como um Al Gore (cujo Uma Verdade Inconveniente, em DVD, vinha embalado num deplorável estojo de papel reciclado, mas mesmo assim continuava a R$ 40) e, tudo bem, o filme deve ser pouco mais que uma apresentação de slides. Mas todo esse eco bullshit não ajuda muito a elevar as expectativas. Veremos.

George Carlin

Um comentário:

  1. A idéia de fazer um remake é que não faz sentido.
    Não a questão ambiental. Que aliás não implica no problema de termos a Terra destruída mas a raça humana. O planeta vai passar bem sim, obrigado.

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