domingo, 16 de novembro de 2008

Última Parada 174

174: Barreto a serviço de nada

Engraçada essa proposta de Bruno Barreto, de ficcionalizar a vida de Sandro do Nascimento, que seqüestrou o ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro, há oito anos. Impossível esperar muito de um filme cuja temática foi explorada com vigor e autenticidade invejáveis por José Padilha em Ônibus 174, documentário que investiga com afinco a situação social e emocional que culminou na tragédia de 2000, sem apontar “culpados” ou “vítimas”, ou mesmo oferecendo explicações de didatismo hipócrita. E mesmo com expectativas lá em baixo, não esperaríamos que Bruno Barreto cometesse um porcaria tão grande quanto esse Última Parada 174. Ou será que isso já era mais do que certo?

Com roteiro raquítico de Bráulio Mantovani, Barreto parece ter dirigido o filme pelo celular. O longa se inicia com os letreiros “Um menino chamado Alessandro” e “Um menino chamado Sandro”, prova de quanto as engrenagens daquela escrita estão expostas. As cenas pulam da favela para a cadeia, da cadeia para a rua, e se alternam tão mecanicamente que, quando finalmente chega o momento do acontecimento fatídico dentro do ônibus, o filme termina de se afundar na sua própria armadilha. Barreto filma as externas do veículo seqüestrado exatamente nos mesmos ângulos nos quais as câmeras de TV, no dia da tragédia, se fixaram incansavelmente. Ele reproduz a estética sensacionalista da televisão de maneira grosseira, mudando a textura da imagem para que o público espectador encontre, talvez, algum tipo de ligação naquele discurso, lembrando que estamos o assistindo a uma encenação fiel aos fatos “como eles ocorreram”. Um diretor que nivela tão por baixo a inteligência de seu público realmente não merece uma gota de credibilidade.

Outra evidência da fraqueza do filme está numa linha de diálogo de uma das personagens envolvidas no seqüestro: com uma canastrice impressionante, a mulher diz a Sandro: “Sabe quem é a maior vítima disso tudo? Você!”, num tom canhestro de filosofia de boteco. Michel de Souza, que interpreta Sandro, sofre com essa novela das oito que Barreto propõe. O ator é intenso, mas essa intensidade parece uma manobra equivocada de Barreto para tentar imprimir ao filme uma importância que ele definitivamente não tem. É o típico filme de diretor preguiçoso – é só assistir (ou não!) a desastres como Bossa Nova e Voando Alto para confirmar essa tese. E a cena final, bom... É o tipo de “surpresa” que faz você querer pedir a esmola de R$ 2,00 da meia-entrada patrocinada pela Ancine (na promoção que deixa o cinema brasileiro “mais perto de você”) de volta. É de deixar Moacyr Góes constrangido.

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