domingo, 25 de abril de 2010

A Estrada e A Caixa


A Caixa é intrigante o suficiente para despertar interesse pelos futuros projetos de Richard Kelly e, quem sabe, superar a preguiça para ver Southland Tales do começo ao fim. O filme estabelece muito bem seu argumento, baseado numa história de Richard Matheson que coloca Frank Langella como alguma espécie de extraterrestre misterioso que entrega uma caixa com um botão vermelho (muito bom o momento em que o título do filme aparece num belo plongée) na residência de um casal – e como todo bom filme de mistério, não se atém muito a explicações.

O problema é quando elas começam a aparecer e a se desenrolar de maneira pouco salutar – o que acaba virando quase um drama à Iñarritú –, mas mesmo assim é uma obra peculiar que nos deixa confortavelmente instigados na sua mistura de tons. Não sei se é, como muitos dizem, um rebento de Lynch, mas seu cinema parece ter escondido ali no meio o impulso necessário para desabrochar com mais força no decorrer do tempo e dos próximos filmes. É um encenador elegante até o momento em que o excesso de travellings e zooms lentos comecem a jogar contra o próprio filme, hiperestetizando cada momento. Ainda assim, o trabalho com atores e clima é muito bom, especialmente numa cena em que James Marsden, o marido, observa pela janela a mulher dançando com sua nova prótese ortopédica ao som de Bell Bottom Blues, de Eric Clapton.

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A Estrada, de John Hillcoat, me pareceu mais frio do que esperava, apesar das atuações de ponta de Viggo Mortensen e o garoto, e uma ponta sublime de Robert Duvall. A necessidade de suprimir boa parte da narrativa através do uso de elipses, espalhando as cenas de conflito a conta-gotas, tirou do filme o aspecto maçante que tanto impacta no romance de McCarthy, a morte chegando lenta, sem pressa - característica, aliás, de dois outros de seus grandes livros, Onde Os Velhos Não Têm Vez e Meridiano de Sangue. Ainda sim, mérito do diretor não se contagiar por qualquer tipo de pieguice, mantendo a serenidade numa narração em off pontual e bem utilizada.

Não provoca rios de lágrimas, mas a solução para o final, especialmente, tem uma secura que me agrada, o corte seco no rosto do garoto (Kodi Smit-McPhee). É uma tristeza gelada, um sentimento de inevitabilidade, de condenação mais próxima de um A Sangue Frio, de Richard Brooks. Não sei se é um grande filme, mas de qualquer forma pede uma revisão.

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