Em comum, claro, a elegância da câmera indubitavelmente virtuosa, quase que intrusiva. Com brilhante roteiro do escritor prêmio Nobel Harold Pinter, que também faz ponta aqui, o filme se desenrola com extrema inventividade: já na primeira cena, o filme nos dá uma belíssima pan que culmina na chegada de Hugo Barret (um Dirk Bogarde genial, quase fantasmagórico) a casa ainda em construção de Tony (James Fox), na qual residirá e trabalhará como criado.
Tony o espera dormindo numa cadeira, e o filme constrói, a partir daí, um jogo de relações explosivo. Não é tanto aqui a inversão de valores entre empregado/patrão que mais impressiona, mas sim a culminância de todos os conflitos daí surgidos num terceiro ato incrível e surpreendentemente surreal, no qual se instaura uma atmosfera sufocante de vulnerabilidade.
Esta conclusão pareceu estar em perfeita sintonia com a última cena de O Bebê Rosemary, por exemplo, onde o clima conspiratório/paranóico se mistura estranhamente com a possibilidade terrível de tudo aquilo ser real. Tony, em O Criado, sucumbe àquela presença assustadora e deixa transparecer sua fragilidade de maneira quase constrangedora. Mia Farrow, do lado de Polanski, também se mostra vulnerável com todo o fardo que pensa estar carregando em seu ventre.
Interessante o diálogo que se estabelece entre esses filmes (não só entre O Criado e Rosemary, mas com toda a trilogia de Polanski), todos com seus ambientes cuja espacialidade ganha contornos incrivelmente vívidos, onde personagens são “absorvidos” e caem numa derrocada emocional inquietante.