sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Kubrick Revisited


Dá uma vontade iressistível de compartilhar tudo que acabo de ler em Kubrick: De Olhos Bem Abertos, de Frederic Raphael (roteirista do último filme de Kubrick), mas prefiro deixar o deleite para quem não leu ainda comprar e se esbaldar no processo criativo do maior cineasta da história que, não à toa, dá nome a esse blog. É uma personalidade fascinante que, com sua despretensão e talento monstruosos construiu obra única e incomparável. Recomendável rever todos os filmes de Kubrick após a leitura - ou melhor, todo motivo é pretexto para se mergulhar novamente no universo kubrickiano.

Um aperitivo:

S.K.: [sobre A Lista de Schindler, de Spielberg] Aquilo era sobre o sucesso, não acha? O Holocausto é sobre seis milhões de pessoas que foram exterminadas. A Lista de Schindler é sobre seiscentas pessoas que não foram.

Fucking genious.




segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre o domínio de cena

Penso que todo cinéfilo que se preze tem a obrigação de prestar uma homenagem a Marlon Brando, seja ela de que forma for. A minha vai agora, neste relato. A cena entre o seu personagem, Terry Malloy, e seu irmão Charley (Rod Steiger), no carro, no magnífico Sindicato de Ladrões, prova que um grande ator se faz com um simples movimento: ao apontar a arma para o irmão, Brando exibe um equilíbrio digno de um gênio máximo da atuação. Não se exalta, não agride, mas empurra a mão de Steiger com delicadeza impressionante: “Oh, Charley!”, ele diz profundamente triste e desapontado. Solta um suspiro e vira o rosto, logo após. É fulminante o impacto emocional que Brando causa, e pelo qual desorienta por completo o irmão. Brando joga pela janela qualquer artifício de roteiro ou direção – e o próprio Elia Kazan, diretor, conta no documentário que acompanha o DVD do filme que praticamente não dirigiu a cena, deixou que Brando dominasse a tela. E como ele domina.

sábado, 18 de outubro de 2008

De outro mundo



Às vezes, por mais que se tente relatar uma experiência sensorial, somos sabotados pela falta de palavra à altura para descrevê-la. Em cinema, principalmente, um filme como Vá e Veja, de Elem Kimov, utrapassa qualquer tentativa de racionalização, tamanho é o poder de imagens como estas que posto aqui (e do som, absolutamente genial). A cena referente ao rosto ensagüentado da menina, especialmente, é de se perturbar irreversivelmente. Assim como todo o filme, permeado por essa expressão de mais puro e autêntico horror do ator Aleksei Kravchenko - e o lirismo de algumas cenas, em contraste, torna tudo ainda mais potente e aterrador. Coisa de outro planeta. Corram para essa ótima edição em DVD que a Lume Filmes lançou por aqui no final de setembro. Uma das maiores jóias que se pode ter em qualquer coleção - ou melhor, um monumento.